Resistindo ao tempo

Entrevista com Terezinha Lígia

Grupo de teatro mais velho de Montes Claros, o Fibra permanece vivo até hoje, mais de 30 anos depois de sua criação.

Nasceu em 1979, numa escola pública de Montes Claros, no norte de Minas. O grupo de teatro Fibra se mantém em atividade até hoje. Foi incluído na FETEMIG – Federação de Teatro de Grupo de Minas Gerais, cadastrado na Secretaria Estadual de Cultura, além de ser Considerado de Utilidade Pública pela lei Municipal nº 2259. O grupo é voltado para a cultura da região e deixa isso bem claro em suas apresentações teatrais. É o caso da peça infantil Brincando de Brincar, que utiliza músicas regionais, cantigas de roda e de ninar. Muita cultura regional também na peça para adultos Vem ver Boi, que mostra a alienação do homem contemporâneo quanto aos seus valores culturais. As duas peças foram apresentadas em um dos mais recentes projetos culturais do Fibra, o Expresso Sertão que, desde 2006, percorre cidades do norte de Minas fazendo apresentações gratuitas em ambientes públicos, permitindo a todos o acesso às artes teatrais.

Terezinha Lígia, licenciada em Artes Plásticas e pós graduada em Arte-Educação, é a criadora e diretora do grupo; e, também, atua como atriz. Depois de tanto tempo, afirma que deu conta do recado e nos relata a sua experiência no grupo de teatro mais velho da principal cidade do norte de Minas.

1 – O grupo Fibra nasceu em uma escola da rede estadual a partir de um trabalho de grupo realizado por você. Qual é essa escola em que o grupo nasceu? Como tudo aconteceu?

Foi na Escola Estadual Professor Alcides Carvalho - Colégio Polivalente, durante experimentos nas aulas de Educação Artística sobre a influência das máquinas no homem contemporâneo. E aí nasceu o espetáculo Máquina maquina, máquina?, que deu origem ao Grupo Fibra.

2 - Como o grupo cresceu?

Sempre buscando aprimorar os conhecimentos a cerca do teatro e sua evolução; através de estudos; participando de mostras, festivais e nos associando a coletivos como MTG - Movimento (Teatro de Grupos de Minas Gerais).

3 - Como surgiu o seu interesse por teatro?

Desde a infância já via e ouvia da minha mãe experiências teatrais realizadas por ela, suas irmãs e amigas no pequeno lugarejo onde viveu, e que atraia os moradores e vizinhança para assistirem as peças que eram realizadas em espaço aberto, pelo puro prazer. Hoje acredito que também pela necessidade de atuar. Tenho forte influência musical herdada também da minha mãe e do meu pai, que era tocador de violão e cavaquinho.

4 - Quais os principais eventos que o Fibra já realizou? Fale um pouco sobre eles?

Vou falar dos mais recentes que são o EXPRESSO SERTÃO, projeto aprovado e captado através da Lei estadual de Incentivo á Cultura de Minas Gerais, que irá para a 4ª edição e que alavancou o Grupo Fibra em termos de estruturação. E o EXPRESSO ALEGRIA, prêmio Estado de Minas Gerais de Artes Cênicas - Cena Minas, que deu continuidade e fortaleceu essa fase.

5 - Fale um pouco sobre o EXPRESSO SERTÃO. Como é promover um evento de incentivo a cultura no Norte de Minas?

Tem sido muito gratificante ter nossos projetos aprovados e captados por empresa do porte da Transnorte. E o próximo terá o patrocínio também de uma grande empresa brasileira que é a V&M do Brasil.

6 - Como os atores do grupo lidam com um evento tão importante?

Com muito otimismo, pois estamos vendo o reconhecimento do nosso trabalho que sempre foi realizado no peito e na raça sem nenhum retorno financeiro e agora estamos recebendo por ele.

7 - Qual foi a melhor fase do grupo? Por quê?

Tivemos muitas fases boas, cada uma com sua especificidade, porém a atual nos dá o gosto de estarmos colhendo os frutos do que plantamos.
8 - Como foi descoberto e trabalhado o seu dom para escrever peças de teatro?

Após uma oficina com o grande teatrólogo João das Neves, fui incentivada a escrever sobre nossas riquezas culturais, quando o questionei onde conseguir bons textos de teatro. Escrevi despreten-siosamente, por necessidade e, para minha surpresa, dois foram premiados em um mesmo concurso de textos teatrais.

9 - Você tem noção de quantas peças já escreveu para o grupo? Quais fizeram mais sucesso? Quais foram os principais motivos?

Já dirigi 15 espetáculos do Grupo Fibra, dos quais seis são textos da minha autoria. Considero Mariazinha e o Lobisomem a peça que lançou o Grupo Fibra e fez muito sucesso; ficou mais de 1 ano em cartaz, o que, naquela época, foi um feito inédito. O de maior sucesso, talvez pela maturidade de acreditarmos no seu potencial e de querer mantê-lo como parte do repertório do grupo e pelo tempo que se encontra em cartaz (desde 2001, já na 3ª versão), é Brincando de Brincar. É um roteiro baseado em músicas de domínio público, que já foi premiado no Festiminas – Festival de Teatro de Minas Gerais, realizado em Betim (1994). Temos viajado muito com esse espetáculo e participado de muitos eventos.

10 - Você gosta de trabalhar com peças para crianças. Qual a importância das peças infantis?

Quando você consegue agradar a criança, trazê-la para a realidade do palco, você está pronto para atuar para qualquer platéia, pois a criança é extremamente exigente e mais honesta que o adulto. Um bom espetáculo para criança estará formando bons espectadores.

11 - Quais são os incentivos e as dificuldades para se fazer teatro?

O incentivo vem da certeza de fazer aquilo de que você gosta e para o qual tem vocação; é melhor pra você mesmo, pois gera equilíbrio. Em Montes Claros, a dificuldade vem do poder público e privado ainda não terem acordado para o verdadeiro valor da cultura na formação do indivíduo.

12 - Como o grupo faz para superar as dificuldades?

Continuamos fazendo.

13 - Quais são os planos para o futuro do grupo?

Estamos organizando o ESPAÇO FIBRA DE CULTURA, no qual estreamos e continuamos a apresentar o espetáculo Vem Ver Boi, para oficinas e exibição de filmes dentre outras atividades que pretendemos desenvolver.

14 - Sobre a Lei de Incentivo a Cultura, o grupo tem dificuldade para conseguir apoio dessa lei? Ela realmente ajuda?

Após aprovar o projeto vem a parte mais difícil que é captar. Mas conseguimos sem grandes dificuldades. A Lei tem nos ajudado bastante; através dos recursos temos estruturado o grupo, inclusive com espaço próprio.

15 - O que está faltando para o teatro de Montes Claros ter mais reconhecimento e valorização?

Mais atenção das autoridades competentes para a criação de políticas culturais.

16 - O que te faz encantar-se pelo teatro?

A magia da transformação de algo que não existe e passa a existir através da verdade cênica. Acreditamos na força da transformação do homem através da arte teatral.

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